
Sabe quando você é pego de surpresa ao ver um filme? Bem exatamente isso foi o que aconteceu hoje, no caso não comigo, mas sim com a minha namorada, era para ser só mais um passeio normal no shopping, mas acabou que paramos pra ver um filme.
O filme em si era o menos pior dos que eu achei que estavam em cartaz, e como parecia ser uma temática meio terror, achei que seria uma boa para assistir, e por muita bondade de Deus, minha namorada aceitou ver, já que eu tenho um dedo podre absurdo para escolher filmes, serio gente é sempre um pior do que o outro, no entanto hoje foi diferente se ela não saiu reclamando, é porque pelo menos foi interessante.
Sem mais enrolação, vamos tentar destrinchar um pouco o que eu entendi sobre o filme, pois é aquele tipo de filme como um final meio enigmático.
Presença, o mais recente trabalho do renomado diretor Steven Soderbergh que eu não sei quem é, mas é famoso, apresenta uma abordagem inovadora ao gênero de terror ao narrar a história sob a perspectiva de um espírito que habita uma casa. Este ponto de vista singular busca subverter as convenções tradicionais dos filmes de casas assombradas, oferecendo ao público uma experiência imersiva e diferenciada.
A trama acompanha uma família que se muda para uma nova residência na tentativa de recomeçar após perdas significativas. A matriarca Rebekah e seu marido Chris esforçam-se para manter a unidade familiar mesmo que em diversas vezes enxergamos que a mãe tem algumas coisas escondidas, enquanto seus filhos, Tyler e Chloe, lidam com suas próprias angústias. Chloe, em particular, é assombrada pela morte misteriosa de sua melhor amiga, acreditando que seu espírito agora habita o novo lar.
Soderbergh utiliza planos-sequência e a técnica de ponto de vista (POV) o mesmo que o seu tiktok preferido adora utilizar para colocar o espectador na posição do espírito observador, criando uma atmosfera claustrofóbica e intimidadora. Essa escolha estilística, embora audaciosa, resulta em uma desconexão emocional com os personagens, especialmente com Chloe, cuja vulnerabilidade é central para a narrativa.
O roteiro, insere elementos como a aparição de uma médium e insinuações sobre o passado de Rebekah, mas esses aspectos são pouco desenvolvidos, deixando lacunas na história. Além disso, a ausência de closes e a constante distância da câmera dificultam a empatia do público com os personagens e reduzem a tensão esperada em um thriller sobrenatural.
Daqui em diante é só spoiler
Mas é no desfecho que Presença revela sua faceta mais simbólica e perturbadora. A inesperada aparição do irmão de Chloe, até então apenas uma sombra no pano de fundo da narrativa até porque todas as cenas dele é pra se vangloriar de algo ou citar que a irmã está errada/maluca sobre alguma coisa. Então ele aparecer no espelho no final, não se trata de um susto gratuito, mas de uma virada dramática profundamente enraizada no tema central do filme: o luto que se recusa a ser nomeado.
A ideia da presença observadora estar "presa entre o presente e o futuro", como menciona a médium em uma cena-chave, ganha nova camada de sentido quando interpretamos que essa presença seja, desde o início, o irmão de Chloe. Ele não apenas representa um trauma não resolvido do passado, mas também um elo emocional que impedia a protagonista de seguir em frente. Estar "entre o presente e o futuro" é, simbolicamente, estar em suspensão: um estado em que nem o luto foi aceito, nem a vida conseguiu continuar. Assim, a presença do irmão seria a manifestação dessa pausa existencial, uma dor que estagna, que observa, mas não se comunica até ser finalmente reconhecida.
Neste momento, o espectador compreende que o "espírito" que observou toda a história pode muito bem ser uma projeção da própria Chloe, uma consciência diluída no sofrimento, vagando entre a realidade e o inconsciente. A figura do irmão surge, então, como a última chave — o fragmento da memória mais doloroso, aquele que foi trancado para que a mente pudesse continuar funcionando. Sua aparição representa não apenas a materialização do luto, mas o confronto inevitável com tudo o que foi evitado.
Ao invés de fechar com uma catarse tradicional, Soderbergh opta por um silêncio desconcertante, onde a verdade não é explicada, mas sentida — uma escolha que honra a natureza subjetiva do trauma e o fato de que, às vezes, nossos maiores horrores não vêm de fora, mas de dentro.
Conclusão
Em suma, Presença é uma experiência cinematográfica que se destaca pela ousadia técnica e pela tentativa de inovar dentro do gênero. Contudo, a falta de desenvolvimento dos personagens e a desconexão emocional resultante das escolhas estilísticas impedem que o filme alcance seu potencial pleno. É um filme que mais se admira pela forma do que se envolve pelo conteúdo — mas que, em seu final simbólico, oferece um soco emocional silencioso o suficiente para ecoar por dias na mente do espectador.
Dito tudo isso, minha nota no Letterboxd foi: 3,5
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