Eren Yeager e a Síndrome de Jesus: Quando a Salvação se Torna um Fardo



Se existe um personagem no mundo dos animes que exemplifica a obsessão por uma missão redentora, esse personagem é Eren Yeager, de Attack on Titan. Sua trajetória, desde um jovem impulsivo até um líder revolucionário, carrega semelhanças inquietantes com o que conhecemos como Síndrome de Jesus, um fenômeno psicológico onde o indivíduo se vê como o salvador da humanidade. Mas até que ponto Eren se encaixa nesse arquétipo messiânico? 


Desde o início da série, Eren se mostra guiado por um desejo intenso de liberdade. Sua frase icônica, "Eu nasci livre!", ecoa sua convicção inabalável de que o mundo está aprisionado e que ele é o único capaz de libertá-lo. Isso se intensifica quando ele descobre os segredos da família Yeager e compreende o papel que pode desempenhar na luta contra Marley.


Em sua evolução, Eren começa a acreditar que apenas ele tem o direito e o dever de decidir o destino do mundo. Ele se torna uma figura quase mitológica para os habitantes de Paradis e um terror para o restante da humanidade. Seu plano de extermínio em massa pelo Retumbar não é apenas uma estratégia militar, mas uma verdadeira “purificação”, um sacrifício que ele está disposto a fazer para criar um mundo onde seus amigos possam viver livres.


A Síndrome de Jesus se manifesta em pessoas que acreditam ter sido escolhidas para salvar a humanidade, mesmo que isso exija medidas extremas. Em Eren, podemos identificar características desse transtorno, tais como:


- Convicção absoluta de que seu caminho é o único certo: Mesmo diante de alternativas e conselhos de seus amigos, Eren insiste que o extermínio é a única solução.

- Auto-sacrifício e martírio: Ele sabe que sua jornada o levará à destruição, mas aceita isso como parte de sua missão.

- Interpretação de eventos como sinais divinos: A conexão com as memórias do Titã Fundador faz com que ele veja o passado e o futuro de maneira determinística, como se seu destino já estivesse escrito.

- Sensação de perseguição e oposição ao sistema: Desde criança, Eren se sente preso em um mundo injusto e vê os Titãs e Marley como opressores que precisam ser eliminados.


Diferente da imagem tradicional de um salvador, Eren não busca redenção através do amor ou do perdão, mas sim através da destruição. Seu caminho lembra figuras históricas e mitológicas que acreditaram ser heróis, mas acabaram se tornando vilões aos olhos do mundo. Seu arco final em Attack on Titan nos faz questionar: ele realmente salvou alguém ou apenas trocou um opressor por outro?


O que torna Eren um personagem fascinante é justamente essa ambiguidade. Ele é um herói para Paradis, um monstro para Marley e, no fundo, um ser humano dilacerado pelo peso de suas próprias convicções. Seu sacrifício final, onde ele permite que Mikasa o mate, pode ser interpretado como a última peça de sua jornada messiânica: o salvador que precisa morrer para que sua visão de mundo se concretize.


Eren Yeager é uma das figuras mais complexas do mundo dos animes, e sua trajetória nos leva a refletir sobre o perigo das ideologias extremas. Sua jornada, repleta de sofrimento e obsessão, se encaixa perfeitamente no arquétipo de alguém com a Síndrome de Jesus, transformando-o não apenas em um personagem inesquecível, mas em um símbolo da linha tênue entre redenção e destruição.

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